O MAMULENGO

O Teatro de Bonecos Popular do Nordeste é memória e história, transmitido de geração a geração por artistas caminhantes. É uma das poucas formas de teatro popular que consegue sobreviver no interior e nos centros populares e urbanos do Brasil, principalmente do Nordeste, sendo chamado de vários jeitos: Mamulengo (DF e PE), Cassimiro Coco (PI, CE e MA), João-Redondo (RN), Babau (PB) e Mané-Gostoso (BA). Em constante transformação, carrega ao mesmo tempo uma estética tradicional e elementos históricos de um teatro universal, com fortes influências das culturas afro-indígenas e resquícios da Commedia Dell’Arte. 

Na trilha do tempo, o Distrito Federal tornou-se a região com o maior presença de mamulengos fora do Nordeste. Conta-se que na própria construção de Brasília operários retirantes usavam o tempo de folga ou fugiam do trabalho exaustivo para brincar com os bonecos. Para além das figuras e personagens vindos de São Saruê, na brincadeira, a música ao vivo enche o enredo de ludicidade e reforça a interação com o público. 





UM BREVE PASSEIO PELA HISTÓRIA DO MAMULENGO 

O boneco é anterior ao homem.
-- Mestre Solon 

Desde que o ser humano tenta explicar o mundo, o teatro de bonecos existe. Segundo a própria Bíblia, Adão foi feito de barro e depois animado com o sopro do espírito. Da divisão (costela) desse ser, surgiram o homem e a mulher. Muitas lendas falam do nascimento do ser humano a partir dos bonecos e existem provas da existência do teatro de animação desde os primórdios da história. 

O teatro de bonecos pode ter surgido em diversos lugares do planeta, sem que saibamos quem começou a brincar com esses seres inanimados que, quando são manipulados, ganham vida e podem, até mesmo se transformar em deuses ou demônios. Os gregos conheciam bastante esse teatro. Em Roma, eram apresentados em comemorações e banquetes e chamavam-se imagulae animate (imagens animadas), homunculi (homenzinho) ou, simplesmente, pupae (bonecos).

Os chineses, os japoneses e os indianos são mestres conhecidos desse brinquedo e contam histórias há mais de 2000 anos. O mais incrível é que essas histórias são bastante parecidas com as nossas. São famosos os bonecos desses países onde, além da popularidade, conservam o caráter mágico/religioso. Na Indonésia, em Java, na Turquia e em outros países o teatro de bonecos se apresenta também em forma de sombras, projetadas pela luz, sobre tela transparente, numa sala escura. 

No Brasil os bonecos chegaram com os primeiros portugueses que para cá vieram, e podiam ser como em todo mundo: religiosos ou profanos. Quando aqui chegaram tinham vários nomes, como Presépio de Fala, Bonifrates, Briguela e Engonços. Mas, logo, adquiriram o sabor africano, indígena e novos apelidos: João Minhoca, Cassimiro Coco, João Redondo, Calunga, Babau e Mamulengo, como é mais conhecido. 

Apresentado em qualquer parte, desde os salões da realeza até as feiras e casas mais pobres, da casa grande à senzala, o mamulengo é para todos, sem distinção de idade, credo religioso ou classe social. O mamulengueiro é geralmente um homem com grande capacidade para inventar histórias e improvisar situações com os bonecos, brincando com o público e fazendo críticas aos costumes sociais. Esse artista popular anda de povo em povo, levando e trazendo diversão e informações, despertando o espírito da alegria por onde passa. 

Os bonecos são feitos, geralmente, de madeira e tecido, de feições simples e movimentos engraçados. Sempre lembram algum conhecido nosso, um político, um religioso, um aventureiro, um patrão, um empregado, alguns bichos naturais e até criações do outro mundo. O palco pode ser qualquer tecido onde o mamulengueiro se esconda atrás e os bonecos possam subir para brincar. 

Antigamente, quando não existia a televisão e outras formas de diversão, o mamulengo fazia muito sucesso em todo o Brasil, depois passou por uma grande crise, mas hoje em dia tem se tornado meio de vida de muita gente que vai descobrindo novas funções para os bonecos. 

As histórias geralmente partem de roteiros transmitidos oralment. São clássicos que, adaptados livremente por cada mamulengueiro, se renovam. De vez em quando um mamulengueiro inventa uma brincadeira diferente, o que é muito bom para renovar a tradição. 

Outras características marcantes do mamulengo são o improviso e a comunicação direta com o público o que garante uma permanente renovação do brinquedo tradicional na estrutura e renovador nos conteúdos. 

Chico Simões (Mamulengo Presepada)
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