segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Diário #2 - Rondônia: Caravana Mamulengos do Cerrado Rumo à Floresta

No dia 12 de agosto, exatamente às 8h da manhã, a Caravana Mamulengos do Cerrado Rumo à Floresta saiu do pantanal da cidade de Poconé, em Mato Grosso, em direção ao estado de Rondônia, o portal da Amazônia. Foram oito horas de viagem. A cada correr de quilômetros, víamos a mudança das paisagens, o pantanal foi se transformando em floresta, que logo desaparecia e se transformava em pasto. Era tanto boi que a gente brincava de adivinhar quantos tinha. Ficamos também impressionados com o número de animais mortos nas rodovias, em especial o tamanduá bandeira e o mirim.



VILHENA

Logo depois, chegamos na cidade de Vilhena, nosso primeiro destino no estado de Rondônia. Chegando na cidade, já encontramos tudo preparado e organizado, graças à nossa amiga e parceira Valdete Sousa, diretora e atriz do grupo Wankabuki, que nos recebeu com o coração e braços abertos.

No dia seguinte, tomamos um rápido café da manhã e já corremos para gravar entrevista em um programa de TV, almoçamos e fomos nos preparar para a apresentação na Praça Ângelo Espadari. Recebidos por várias crianças e com tudo pronto, as músicas foram o fio condutor e abre alas das brincadeiras, que começaram com a arquibancada cheia de um público participativo e generoso. Ao terminar, ainda ficamos em um bate-papo com algumas pessoas que fazem teatro na cidade, compartilhando saberes e informações.



JI-PARANÁ

Seguimos para Ji-Paraná. No caminho, fomos abençoados por uma chuvinha chegada no meio da floresta, que aos poucos foi aumentando, nos fazendo parar em um posto de gasolina. Hora depois, passada a chuva, seguimos para nossa hospedagem. No dia seguinte, chegamos cedo no Sesc Lê Ji-Paraná para montar nosso cenário e fazer uma vivência com alunos e educadores da unidade. Em seguida, montamos tudo em um espaço muito legal do local, por ser um canto reservado para exposição fotográfica e outras ações culturais. Começamos as brincadeiras para alunos de 4 a 10 nos, alunos de escola pública que faz o contraturno no Sesc.

A brincadeira ficava cada vez mais linda com a participação dos alunos, com a nossa intérprete libras, Priscila, e com as professoras e funcionários que participava juntamente com as crianças. Terminamos com um lanche bem servido para o grupo, junto com um pedido para realizar uma outra apresentação para os alunos do noturno, estudantes do EJA. Aceitamos o convite e já deixamos tudo pronto para a noite.

Saímos para o hotel e logo voltamos para realizar mais uma apresentação, onde nos deparamos com alunos de até 80 anos, senhores e senhoras que trabalham todo o dia e ainda estudam à noite. A brincadeira fui muito linda, com uma participação muito grande por parte de todos. Saímos do Sesc com uma grande alegria no coração, felizes por fazer uma apresentação para essas pessoas tão especiais. Finalizamos em Ji-Paraná com o convite em voltar logo para dar continuidade à nossa recente parceria que tenho certeza que será duradoura.





ARIQUEMES

No dia 16 de agosto, continuamos nossa rota na rodovia 364, em direção a Ariquemes, uma cidade que tem nome de uma etnia indígena que foi extinta há muitos anos, cidade conhecida por ter vários garimpos de ouro e também por uma das mais violentas do estado. Depois de algumas paradas na estrada, que estava em obras, pegamos um longo trecho novinho e já terminado. Chegando em Ariquemes com algumas pessoas já ao nosso aguardo, uma delas era nosso primo que não nos via há mais de 15 nos. Depois de muitos papos e lembranças dos familiares, partimos para o nosso alojamento e nos preparamos para a apresentação do dia seguinte.

No Sesc Ler Ariquemes, uma unidade muito bonita que fica localizada no centro da cidade, fomos recebidos por um público de pré-adolescentes e adultos. Logo chegou um senhor que ficou junto conosco, ajudando a montar nosso cenário. Logo, chegou ainda um ônibus com crianças de uma escola pública, crianças de quatro aninhos. Crianças agitadas, idosos tímidos... Mas logo todos entraram na brincadeira, participando, falando com os bonecos e animados com o ritmo do forró. Terminamos com a alma lavada e, para finalizar com chave de ouro, as professoras e os alunos trouxeram vários bonecos de mamulengo feitos por eles mesmos e também alguns painéis falando do registro do teatro de bonecos populares pelo IPHAN. Tivemos ainda um lanche muito especial.



PORTO VELHO

Floresta adentro, chegamos em Porto Velho. A primeira parada foi no Rio Madeira, para pedir a bênção e prosseguir a caminhada. Em seguida, comemos um bom almoço e fomos em direção ao Parque da Cidade, onde fomos recepcionados pela Mirilaine. Escolhemos o local da brincadeira e começamos a montar a tolda, nosso cenário, em uma grama muito bonita ao som de passarinhos e cigarras que comemoravam a chuva que chegava. No meio da montagem, os amigos chegavam para abrilhantar mais ainda o espetáculo, com a chegada do Bruno, do grupo Ruante, parceiro da Caravana. Logo depois, recebemos a presença da Selma Adailton e da Bruna, também da Cia Ruante.

Com tudo pronto, começamos a brincadeira com o sol dando passagem para a lua. O público participativo cantava e vibrava com a brincadeira, principalmente as crianças. Depois de muitas risadas, terminamos a apresentação e, logo em seguida, o público veio agradecer e parabenizar pelo espetáculo. Juntamente com os amigos, nos convidou para um jantar em um lugar tradicional da cidade.




No dia seguinte, logo pela manhã com um dia lindo depois de uma noite de chuva, partimos para o Sesc Esplanada. Já na entrada do teatro, nos deparamos com amigos e o técnico de som Davi, que tinha feito o som pra gente. Com tudo pronto, as crianças começaram a chegar lotando o teatro em um instante. Começamos a brincadeira com uma música mais calma, para deixar as crianças mais tranquilas, mas não adiantou. No momento em que entrou o primeiro boneco, a gritaria foi grande. Muitas das crianças presentes nunca tinham visto um teatro de mamulengo e suas brincadeiras. Foi um espetáculo lindo, para um público de umas 200 crianças cheias de euforia e agradecidas em muitos abraços, beijos.

Com o coração cheio de alegria e saudades, deixamos o estado de Rondônia nos embrenhando ainda mais dentro da floresta. Próxima parada: Rio Branco, no Acre. Evoé caravana....

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Diário #1 - Mato Grosso: Caravana Mamulengos do Cerrado Rumo à Floresta

TANGARÁ DA SERRA

No dia 1º de agosto, partimos de Taguatinga (DF) rumo à floresta. Nossa primeira parada: Mato Grosso. Foram muitos quilômetros de estradas e alegria. O Cerrado, mostrando sua beleza com vários ipês floridos, e uma mistura de cores fizeram com que a viajem ficasse mais bela.

Infelizmente, nem só beleza vimos pelo cerrado. Depois da divisa dos estados de Goiás e Mato Grosso, a paisagem se modificou e a mata foi dando lugar para plantações de soja e pastagem de gado. No meio de tudo isso, algumas aldeias indígenas disputando seus territórios com os empresários da monocultura.

Mas, a natureza é forte. Logo à frente, ela nos mostrou que estava ali, firme. Chegamos na Chapada dos Guimarães com toda a sua beleza. A primeira parada foi no mirante do Centro Geodésico da América do Sul, a 1.600 quilômetros do Oceano Pacífico e do Atlântico, com uma vista maravilhosa. Logo depois, seguimos para a cidade de Chapada, onde almoçamos e seguimos nossa rota rumo a Tangará da Serra, onde fomos recebidos por nossa amiga e parceira Joeli Siqueira, do Grupo de Teatro Grutta e Grupo de Dança Os de Fora.

No dia seguinte, 3 de agosto, às 9h da manhã, abrimos o festival de culturas populares com a nossa primeira apresentação para alunos da rede pública de ensino, que teve repeteco às 15h. Para finalizar o dia, às 19h30 abrimos as portas do Centro de Cultura para receber a comunidade. Casa lotada e mais uma linda apresentação, seguida de um bate-papo com os alunos de teatro e da escola Ernesto Che Guevara.



CUIABÁ

No dia 5 de agosto, domingo, chegamos na Cidade de Cuiabá. Para a nossa sorte, o clima estava muito bom, por volta de 28 graus, que é quase um milagre em Cuiabá, nessa época do ano. Fomos recebidos pelo subsecretário de Cultura do município, que nos levou para um jantar e um bate-papo sobre a cultura local.

Na segunda, a caravana partiu para o local da apresentação, um parque urbano localizado no centro da cidade, onde acontecem vários eventos. Na hora da montagem, foram chegando os amigos e parceiros para abrilhantar mais ainda a brincadeira, que aconteceu por volta das 18h, com um público lindo e participativo, que no fim do espetáculo veio nos parabenizar pela apresentação.

Virada a noite, seguimos no outro dia, fomos convidados para apresentar em uma escola pública que trabalha com ensino integral e ensino especial, a Escola Estadual José de Mesquita. A apresentação aconteceu na quadra de esporte, com a participação de duas alunas como intérpretes de libras, linguagem que faz parte do currículo da escola. Assim, realizamos essa inesperada e muito alegre apresentação em Cuiabá.



SANTO ANTÔNIO DE LEVEGER

No dia 08 de agosto, seguindo o Rio Cuiabá, chegamos na cidade de Santo Antônio de Leveger. À nossa espera estava o mestre artesão Alcides Ribeiro, conhecido por levar a cultura da viola de cocho para todo o mundo. Alcides nos levou para conhecer uma parte do majestoso Rio Cuiabá e suas lendas e histórias. Depois de um café e um bate-papo, seguimos para o local da apresentação, Escola Dr. Hermes Rodrigues de Alcântara, um lindo espaço de 62 anos onde, no turno da noite, estudam jovens e adultos.

Por lá, as brincadeiras duraram muito mais do que esperávamos. Foram momentos de muitas risadas, participação e alegrias para nós, brincantes, e para público presente. Depois da apresentação, junto com os alunos, professores, direção e mestre Alcides Ribeiro, tivemos uma boa prosa sobre a valorização das culturas populares e tradicionais do Brasil e sobre o reconhecimento do Mamulengo e da Viola de Cocho como patrimônios culturais do país, pelo IPHAN.

Para finalizar a noite com chave de ouro, fomos convidados para comer um peixe na beira do rio e continuar a conversa que se estendeu até tarde da noite. Depois de muitas risadas e histórias, fomos descansar e nos preparar para a última apresentação da caravana no Sesc Pantanal da cidade de Poconé.



POCONÉ

Passados alguns quilômetros de Cuiabá, chegamos em Poconé, cidade conhecida por ser o portal do Pantanal mato-grossense e também por ter várias mineradoras buscando o ouro enterrado em suas entranhas. Uma cidade pequena, com muitas histórias de luta e resistência do Padre Joaquim, espanhol que fez uma revolução em prol da cidade, construindo vilas, hospital e até mesmo abrigo para menores. O corpo de Padre Joaquim foi enterrado no altar da Igreja Matriz, sendo adorado por muitos.

No dia 9 de agosto, depois de andar, fazer amizades e conhecer uma pouco mais da cidade e suas histórias, partimos para o Hotel Sesc Porto Cerrado, que integra o SESC Pantanal, banhado pelo Rio Cuiabá e vários outros afluentes. O hotel fica por volta de 45 km da cidade, conhecido por ser um porto cercado pela maior reserva particular do país. Uma estrutura de encher os olhos, com natureza bem preservada e uma diversidade de animais silvestre espalhados por todos os lados.

Seguimos e voltamos para a cidade, onde seria nossa apresentação. Chegamos já com algumas crianças fazendo suas atividades de lazer. À nossa espera estava a Josenira, responsável pela parte cultural da unidade e parceira da caravana. Com tudo montado, a sanfona começou a tocar, para alegria do diretor, que é alagoano pode relembrar uma pouco do seu estado. Os bonecos subiram e a brincadeira começou. O público era pequeno, porém participativo. Ao longo dos 45 minutos compartilhamos muitas com um gostinho de até breve.



LOGO MAIS... RELATOS DE RONDÔNIA

E foi assim que a caravana saiu do Cerrado, passou pelo Pantanal e finalizou sua passagem por Mato Grosso. Agora, seguimos nos preparativos e para o estado de Rondônia. Por lá, nossa primeira parada é na cidade de Vilhena. Evoé Mamulengos do Cerrado Rumo à Floresta e seus encantamentos...