Domingo, 27 de Abril de 2008
Teatro de boneco será patrimônio cultural do País
"Eu sou a flor do mamulengo/ Me apaixonei por um boneco". Nos versos do compositor Luiz Fidélis, cantados pela banda de forró Mastruz com Leite, o grande amor de uma mulher é simbolizado por um boneco de mamulengo, por quem ela declara a própria paixão. Mas, em breve, o teatro de bonecos tradicional do Nordeste, conhecido genericamente como mamulengo, poderá ganhar muito mais amantes Brasil afora. Para isso, está em andamento um projeto de registro dessa expressão popular como patrimônio cultural do Brasil.
A iniciativa é denominada "Projeto de Registro do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste: Mamulengo, Cassimiro Coco, Babau e João Redondo como Patrimônio Cultural do Brasil". O pedido veio da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB) e conta, desde 2007, com o financiamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O gerenciamento da pesquisa cabe à Associação Filhos da Lua, do Paraná.
Os estados abrangidos pelo projeto são Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, onde o teatro de bonecos tradicional é denominado Cassimiro Coco, João Redondo, Babau e Mamulengo, respectivamente. Segundo a coordenadora da pesquisa no Ceará, a escritora e bonequeira Ângela Escudeiro, a diferença desses nomes se deve ao costume e às diferenças de abordagem em cada Estado. "O berço dessa linguagem é Pernambuco, por isso o uso da palavra mamulengo ficou generalizado entre a população", explica ela.
Escudeiro é auxiliada pelos pesquisadores Aldenôra Pereira e Paulo Mazulo. Ela explica que, no momento, está sendo desenvolvida a primeira etapa do projeto: a pesquisa documental. Para isso, estão sendo catalogados o acervo dos bonequeiros cearenses e as informações já existentes sobre o teatro de bonecos tradicional, provenientes de fontes escritas, audiovisuais e outros materiais. Os dados devem ser repassados ao Iphan até o fim de maio.
A iniciativa é denominada "Projeto de Registro do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste: Mamulengo, Cassimiro Coco, Babau e João Redondo como Patrimônio Cultural do Brasil". O pedido veio da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos (ABTB) e conta, desde 2007, com o financiamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O gerenciamento da pesquisa cabe à Associação Filhos da Lua, do Paraná.
Os estados abrangidos pelo projeto são Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, onde o teatro de bonecos tradicional é denominado Cassimiro Coco, João Redondo, Babau e Mamulengo, respectivamente. Segundo a coordenadora da pesquisa no Ceará, a escritora e bonequeira Ângela Escudeiro, a diferença desses nomes se deve ao costume e às diferenças de abordagem em cada Estado. "O berço dessa linguagem é Pernambuco, por isso o uso da palavra mamulengo ficou generalizado entre a população", explica ela.
Escudeiro é auxiliada pelos pesquisadores Aldenôra Pereira e Paulo Mazulo. Ela explica que, no momento, está sendo desenvolvida a primeira etapa do projeto: a pesquisa documental. Para isso, estão sendo catalogados o acervo dos bonequeiros cearenses e as informações já existentes sobre o teatro de bonecos tradicional, provenientes de fontes escritas, audiovisuais e outros materiais. Os dados devem ser repassados ao Iphan até o fim de maio.
Em seguida, será iniciada a pesquisa de campo, quando, por meio de entrevistas, serão colhidos dados sobre a história de vida, a realidade socioeconômica, as rotinas de trabalho e outras informações dos mamulengueiros. Após a sistematização dos dados coletados, um dossiê de registro será apresentado ao Iphan, que decidirá sobre a classificação do teatro de bonecos popular como patrimônio cultural brasileiro.
Uma das importantes fontes de informação sobre essa expressão cultural no Estado é o livro "Cassimiro Coco de cada dia", lançado por Ângela Escudeiro em setembro do ano passado. A obra foi o resultado de uma pesquisa iniciada cinco anos antes pela autora, que faz com que ela tenha uma idéia da situação crítica em que se encontra essa arte no Ceará, mesmo com o projeto de registro estando ainda na fase inicial.
De acordo com a coordenadora do projeto, o teatro de bonecos de raiz está a um passo da extinção, pois são poucos os mestres-bonequeiros que ainda se apresentam e repassam o conhecimento para as novas gerações. Escudeiro conta que não encontrou nem uma dezena desses artistas ainda em atuação. Apresentações de personagens como o seu Zai, de Iguatu (ver página 4), o Raimundo Ferreira, de Pindoretama, e o Wagner Oliveira, de Ocara, são cada vez mais raras.
"Há deles que estavam passando fome. Quase todos são revoltados com a falta de apoio para continuarem se apresentando", revela a pesquisadora, que diz ter percebido muito desalento e desesperança entre eles. "Encontrei alguns com a mala de bonecos fechada; outros desistiram por causa de fatores variados, como a religião", completa.
Arte encantadora
Para a titular da 4ª Superintendência Regional do Iphan, Olga Paiva, a falta de condições financeiras dos bonequeiros para continuarem as apresentações pode explicar a ameaça de sumiço do teatro de bonecos de raiz. Outra razão poderia ser a diminuição do interesse da sociedade pelas apresentações, causada por uma mudança de valores ao longo dos últimos tempos.
Ela acredita mais na primeira explicação. "O boneco é uma arte encantadora. Na frente dele, todos são crianças". Para defender essa idéia, Olga lembra ainda a tradição da nossa sociedade de valorizar a cultura oral. "A fala, as entonações, a brincadeira, tudo isso faz parte do nosso cotidiano", diz ela.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Registro permite salvaguardas
Fortaleza. O registro do teatro de bonecos popular do Nordeste como patrimônio cultural do Brasil obrigará a criação de um Plano de Salvaguarda dessa expressão cultural pelo Iphan. A partir daí, o poder público assumirá o compromisso de implementar políticas públicas de revitalização dessa arte, o que poderá reverter a ameaça de extinção dessa tradição e garantir a sobrevivência dos mestres-bonequeiros.
Para isso, o dossiê de registro a ser produzido ao fim da pesquisa atual será analisado pelo Departamento Patrimonial e Material do Iphan, em Brasília. Em seguida, será encaminhado à presidência e ao conselho consultivo do órgão. Se o documento for aprovado, haverá a concessão do título de patrimônio cultural, como o devido tombamento.
De acordo com a titular da 4ª Superintendência Regional do Iphan, Olga Paiva, para que um bem cultural ganhe o reconhecimento é preciso que tenha relevância nacional. A superintendente considera que isso ocorre com o teatro de bonecos, já que é apreciado por expressiva parcela da população na região Nordeste.
Uma das possibilidades de valorizar mais o teatro de bonecos popular, na opinião de Olga Paiva, seria usá-lo como uma ferramenta pedagógica nas escolas, visando inclusive à educação patrimonial. "O boneco poderia contar a história do Teatro José de Alencar ou do Passeio Público, por exemplo", sugere ela.
Um dos exemplos de que o teatro de bonecos ainda encanta ao público, citado pela superintendente do Iphan, é o sucesso do programa "Nas Garras da Patrulha", que utiliza bonecos do Circo Tupiniquim e é veiculado pela TV Diário.
Diferenças
A escritora, bonequeira e coordenadora estadual da pesquisa, Ângela Escudeiro, explica que o projeto que será apreciado pelo Iphan objetiva registrar o teatro de bonecos de raiz, que apresenta diferenças em relação aos espetáculos mais modernos, apresentados em Fortaleza. "O Cassimiro Coco não usa muita técnica: são instrumentos simples, de acordo com a realidade de cada um dos bonequeiros".
A coordenadora explica que os bonecos antigos tinham cabeça, braço e mãos feitos de pedaços de madeira, como a imburana, o mulungu e o próprio coco. As outras partes do corpo eram feitos de pedaços de pano ou camisões. Segundo ela, o som das apresentações era feito ao vivo, com o auxílio de triângulo, zabumba e gaita. As emboladas eram um dos ritmos mais tocados.
Além disso, conforme Escudeiro, o improviso era muito presente nessas apresentações, não havendo um roteiro da peça, escrito com começo, meio e fim de cada narrativa. Já as histórias narradas se relacionavam diretamente com o cotidiano das comunidades onde se apresentavam os calungueiros — outro nome dado aos bonequeiros populares.
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